A ideia de que uma única entidade estaria na origem de todos os elementos incluídos no constructo da inteligência veio do fato de que há uma certa estabilidade no desempenho de tarefas cognitivas aparentemente não relacionadas (Spearman, 1904), um achado inicial que se tem comprovado cada vez mais robusto ao longo dos anos (Kovacs & Conway, 2019). Spearman (1904) propôs que um fator geral dominante, ou G, seria a causa das fortes correlações entre os resultados em diferentes testes de inteligência.
Como a inteligência é um constructo tão abstrato e multidimensional, avaliá-la diretamente é impossível. Assim, os testes desenhados para a avaliar usam o comportamento dos indivíduos (por exemplo, seu desempenho em certas tarefas cognitivas) para inferir seu nível de inteligência (Kranzler & Floyd, 2013; Kovacs & Conway, 2019). O nível de QI (coeficiente de inteligência) é, portanto, um cálculo dos resultados de testes que avaliam diferentes habilidades cognitivas, que se acredita refletirem o fator geral G.
Ao longo dos anos, houve uma miríade de modelos de inteligência que estão ligados a múltiplos testes desenhados para a avaliar, como a Escala de Inteligência de Adultos de Wechsler, a Escala Stanford-Binet ou as Matrizes Progressivas de Raven (Daniel, 1997). Embora haja pouco consenso sobre a melhor forma de definir e avaliar a inteligência, três constructos prevalecem na literatura como elementos centrais desta: raciocínio dedutivo e indutivo e memória (especialmente memória de trabalho).
Nossa abordagem para avaliar o QI se concentra nestes três elementos:
Apesar de todas as controvérsias, o QI está fortemente relacionado - mais do que qualquer outra variável humana isolada até agora identificada na literatura científica - a muitos resultados educacionais, ocupacionais, econômicos e sociais importantes; qualquer que seja a avaliação dos testes de QI, parece ser inegável seu significado prático e social (Gottfredson, 1997).
Helena Martins é Investigadora e Professora na área de Gestão de Recursos Humanos. Se formou na área de Psicologia e de Gestão e atualmente leciona em Lisboa, Portugal. Seus interesses de pesquisa e ensino são o desenvolvimento de competências sociais para situações de crise e mudança, onde uma avaliação psicológica sólida é a chave como ponto de partida para intervenções eficazes.
ORCID / Research Gate / Ciência Vitae
Cosmides, L., and Tooby, J. (2002). Unraveling the enigma of human intelligence: evolutionary psychology and the multimodular mind. in R. J. Sternberg and J. C. Kaufman(Eds) The Evolution of Intelligence, 145–198. Mahwah, NJ: Erlbaum.
Daniel, M. (1997). Intelligence Testing: status and trends. American Psychologist. 52(10), 1038-1045.
Gottfredson, L. S. (1997). Mainstream science on intelligence: an editorial with 52 signatories, history, and bibliography (Reprinted from The Wall Street Journal, 1994). Intelligence 24, 13–23. doi: 10.1016/S0160-2896(97)90011-8.
Johnson-Laird, P. (1999). Deductive reasoning. Annual Review of Psychology, 50, 109-135.
Kovacs, K. & Conway, A. (2019). What is IQ: life beyond “general intelligence”. Current Directions in Psychological Science. 28(2), 184-194.
Kranzler, J. H., & Floyd, R. G. (2013). Assessing intelligence in children and adolescents: A practical guide. Guilford Press.
Malenka RC, Nestler EJ, Hyman SE (2009). "Chapter 13: Higher Cognitive Function and Behavioral Control". In Sydor A, Brown RY (eds.). Molecular Neuropharmacology: A Foundation for Clinical Neuroscience (2nd ed.). New York: McGraw-Hill Medical. pp. 313–321. ISBN 978-0-07-148127-4.
Miyake, A.; Shah, P., eds. (1999). Models of working memory. Mechanisms of active maintenance and executive control. Cambridge University Press. ISBN 0-521-58325-X.
Spearman, C. (1904). ‘‘General intelligence’’ objectively determined and measured. Am. J. Psychol. 15, 201–293.
Sternberg, R. J., & Kaufman, S. B. (Eds.). (2011). The Cambridge handbook of intelligence. Cambridge University Press.