O Sudoku é um dos tipos mais famosos de quebra-cabeças numéricos. Sua premissa é muito simples: preencher uma grade com os números de 1 a 9, certificando-se de que não existem dígitos repetidos em cada linha e coluna. Como qualquer jogador descobrirá rapidamente, isso é mais fácil dizer do que fazer.
O Sudoku envolve o uso da memória (quais números já estão colocados e onde e quais estão faltando) e raciocínio lógico (se X é verdadeiro, então Y é falso). O jogador também deve analisar e ter em mente a relação entre o quebra-cabeça como um todo e suas partes.
Os benefícios desse tipo de quebra-cabeça cerebral parecem desde logo óbvios, mas já foram também corroborados em um estudo de 20191 que mostrou que indivíduos com mais de 50 anos que jogam Sudoku relatam mais funções cognitivas de qualidade do que aqueles da mesma faixa etária que não jogam esse tipo de quebra-cabeça.
Da mesma forma, como o Sudoku acciona o córtex pré-frontal, também já foi apontado como uma possível ferramenta a ser usada para “treinamento de remediação cognitiva em distúrbios neuropsiquiátricos”2
Além disso, os quadrados latinos que são a inspiração para o Sudoku são usados com frequência em testes de QI ou testes de raciocínio dedutivo, o que mostra que os jogadores realmente precisam desenvolver habilidades cognitivas para resolvê-los.
O clássico jogo de tabuleiro é conhecido por ajudar a melhorar as habilidades de vocabulário e ortografia tanto em adultos quanto em crianças. No entanto, o Scrabble também oferece outros benefícios menos óbvios.
Foi demonstrado que, em comparação com jogadores ocasionais, os jogadores especialistas empregam mais regiões do cérebro ao jogar. Enquanto os primeiros envolvem principalmente a região do cérebro associada ao reconhecimento e significado das palavras, os especialistas ativam regiões adicionais e parecem depender mais do uso da memória e das habilidades de percepção visual.3 Assim, jogar Scrabble regularmente pode ser visto como um bom treinamento cerebral não apenas para melhorar o vocabulário, mas também outras habilidades mentais insuspeitadas.
Palavras cruzadas é outro jogo de palavras que também se enquadra na categoria de tipos de quebra-cabeças cerebrais. Ajuda a desenvolver habilidades de raciocínio verbal e expõe os jogadores a um novo vocabulário combinado com significados. No entanto, tal como no caso do Scrabble, também já foi demonstrado que ajuda a treinar e melhorar a memória de trabalho, a concentração e outras funções executivas do cérebro.4
As pesquisas têm sido contraditórias na questão de se as palavras cruzadas impedem ou não o declínio das funções cognitivas, mas a prevenção e a melhoria nem sempre andam de mãos dadas. Mesmo que esses quebra-cabeças de palavras não ajudem a retardar a deterioração das habilidades mentais, isso não exclui sua utilidade para melhorá-las.
O clássico jogo de montar peças para formar uma imagem também é um tipo de quebra-cabeça cerebral. Os quebra-cabeças têm sido associados particularmente ao aprimoramento e desenvolvimento da inteligência espacial, com foco nas habilidades visuais-espaciais.5 Eles podem até ser jogos cerebrais perfeitos para crianças, pois foi demonstrado que ajudam a melhorar o “desenvolvimento metarrepresentacional geral e pictórico” em crianças de 4 anos.6
Apesar da simplicidade desse tipo de jogo, o ato de montar as peças força os jogadores a visualizar a imagem completa em suas mentes e tentar encontrar o posicionamento das peças dentro dessa imagem. Construir um quebra-cabeça também envolve a memória de curto prazo (tem que recordar a imagem, as peças e onde você as viu pela última vez), bem como a concentração.
O FreeCell é um dos muitos jogos de cartas da família dos jogos de Paciência. É também um dos melhores para treinar seu cérebro enquanto se diverte.
O objetivo do jogo é simplesmente reorganizar as cartas por naipe e em ordem crescente, começando com os ases e terminando com os reis. A dificuldade está nas regras restritivas para movimentar as cartas e alcançar aquelas que necessita.
O FreeCell é um ótimo quebra-cabeça cerebral porque envolve habilidades de memória, concentração e raciocínio. Durante o jogo, os jogadores devem analisar a mesa, elaborar uma estratégia e planejar com antecedência para alcançar as cartas necessárias, equilibrar o número de células livres com a quantidade de movimentos que eles acreditam que precisarão fazer e, finalmente, decidir se um movimento seria mais lucrativo naquele momento ou se seria melhor adiá-lo e coletar mais ganhos posteriormente.
Mesmo que pareça um jogo de cartas banal, há muitas habilidades cognitivas sendo usadas ao mesmo tempo. O FreeCell é tão bom a combinar esses diferentes tipos de raciocínio, que está sendo usado até mesmo como um instrumento para prever o declínio cognitivo em idosos.7
Referências:
1 Brooker, H, Wesnes, KA, Ballard, C, et al (2019). The relationship between the frequency of number-puzzle use and baseline cognitive function in a large online sample of adults aged 50 and over. Int J Geriatr Psychiatry. 34: 932– 940. https://doi.org/10.1002/gps.5085
2 Ashlesh, P., Deepak, K. K., & Preet, K. K. (2020). Role of prefrontal cortex during Sudoku task: fNIRS study. Translational neuroscience, 11(1), 419–427. https://doi.org/10.1515/tnsci-2020-0147
3 Protzner, Andrea & Hargreaves, Ian & Campbell, J.A. & Myers-Stewart, Kaia & Van Hees, Sophia & Goodyear, Bradley & Sargious, Peter & Pexman, Penny. (2015). This is Your Brain on Scrabble: Neural Correlates of Visual Word Recognition in Competitive Scrabble Players as Measured During Task and Resting-State. Cortex. 40. 10.1016/j.cortex.2015.03.015; Hargreaves, I. S., Pexman, P. M., Zdrazilova, L., & Sargious, P. (2012). How a hobby can shape cognition: visual word recognition in competitive Scrabble players. Memory & cognition, 40(1), 1–7. https://doi.org/10.3758/s13421-011-0137-5
4 Brooker, H, Wesnes, KA, Ballard, C, et al. (2019). An online investigation of the relationship between the frequency of word puzzle use and cognitive function in a large sample of older adults. Int J Geriatr Psychiatry. 34: 921– 931. https://doi.org/10.1002/gps.5033; Toma, M., Halpern, D. F., and Berger, D. E. (2014), Cognitive Abilities of Elite Nationally Ranked SCRABBLE and Crossword Experts, Appl. Cognit. Psychol., 28, pages 727– 737, doi: 10.1002/acp.3059
5 Fissler, P., Küster, O. C., Laptinskaya, D., Loy, L. S., von Arnim, C., & Kolassa, I. T. (2018). Jigsaw Puzzling Taps Multiple Cognitive Abilities and Is a Potential Protective Factor for Cognitive Aging. Frontiers in aging neuroscience, 10, 299. https://doi.org/10.3389/fnagi.2018.00299
6 Doherty, M.J., Wimmer, M.C., Gollek, C., Stone, C. and Robinson, E.J. (2021), Piecing Together the Puzzle of Pictorial Representation: How Jigsaw Puzzles Index Metacognitive Development. Child Dev, 92: 205-221. https://doi.org/10.1111/cdev.13391
7 Jimison, Holly & Pavel, Misha & Mckanna, James & Pavel, Jesse. (2004). Unobtrusive Monitoring of Computer Interactions to Detect Cognitive Status in Elders. IEEE transactions on information technology in biomedicine : a publication of the IEEE Engineering in Medicine and Biology Society. 8. 248-52. 10.1109/TITB.2004.835539